Dezembro de 2021. Por pouco uma síndica não é agredida dentro do condomínio onde atua. O motivo? Estava cumprindo as medidas sanitárias determinadas pelo Município e mantinha restrições à área de lazer. Poucos dias depois, outro síndico viveu uma situação inusitada: após o furto da carteira de um morador e identificar através de imagens das câmeras um adolescente como autor, um familiar do jovem quase agrediu o síndico. Ao irem para a delegacia, o familiar ainda registrou queixa contra o síndico.
Se esses casos parecem absurdo, o que dizer de um síndico no interior de São Paulo que foi assassinado a tiros na área comum do condomínio?
Os três episódios retratam uma parte triste da sindicatura: a violência cotidiana contra síndicos. Na maioria das vezes, ela começa até em tom de “brincadeira”, uma palavra atravessada, compartilhamento em grupos de WhatsApp, podendo evoluir até para stalking (perseguição).
Esta escalada de violência pode terminar em algo muito mais grave, como morte. Em vídeo publicado em redes sociais no dia em que o síndico do interior de São Paulo foi assassinado, o advogado especializado e referência no setor condominial, Márcio Rachkorsky foi taxativo em afirmar que casos assim não podem voltar a acontecer:
— Tenho preocupação com o que vem acontecendo com nossa categoria. Vira e mexe a gente é difamado, a gente é caluniado, mas hoje a gente acompanhou o caso do síndico que foi assassinado. É o terceiro ou quarto caso recente. A gente precisa abrir os olhos e, acima de tudo, precisamos nos unir e buscar medidas para que o Judiciário seja mais firme em relação às pessoas que ficam nos agredindo o tempo todo. Quando falo agressão é uma escalada de violência. Primeiro espalham boatos, depois falando mal no WhatsApp, depois ameaçando e, por fim, matando o síndico. Isso não pode acontecer — afirmou no vídeo.
Também advogado condominial, Anderson Bruno Moreira de Moraes concorda e acrescenta:
— As obrigações de suas funções tornam os síndicos pessoas expostas. Muitos moram onde exercem a sindicatura, ficando a mercê da irá e furor de condôminos. Ao mesmo tempo, quando este síndico vai buscar um amparo, muitas vezes não consegue.
Não raro, os síndicos reclamam de dificuldades em realizar boletins de ocorrência nas delegacias, comumente cheias e com poucos recursos. Eu mesmo já fiquei numa delegacia por quase oito horas com uma síndica que precisava registrar um Boletim de Ocorrências. Os casos não são tratados com a seriedade necessária e isso precisa mudar. Oriento para que este síndico não desista de fazer um BO e que não ignore uma ameaça, por exemplo. Denuncie, pois isso será uma forma de resguardar-se — explica Anderson Bruno.