Lugar de mulher é onde ela quiser! Inclusive, nas várias áreas de atuação em condomínios. Aos poucos, as mulheres vão conquistando o seu espaço e provando que não há tarefa que eles façam e que elas não desempenhem tão bem quanto. Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a Revista Meu Condomínio ouviu presenças femininas que atuam no mercado condominial, sobre representatividade, dificuldades e realizações pessoais.

Síndica profissional especializada em condomínios do Programa Minha Casa Minha vida, Ana Paula Vieira tem experiência de 33 anos na área comercial. Ela acha que a participação da mulher no mercado condominial cresceu consideravelmente, mas ainda não se equiparou à presença masculina. Em sua opinião, o preconceito já foi maior, mas ainda existe.
“Se fizermos a comparação da administração de mulheres e de homens, as gestões femininas são muito mais positivas, em todos os sentidos. A gente descobriu que tem um número muito grande de mulheres fazendo gestão no Brasil. E no começo esse número era tímido. Na verdade, a gente achava que era sozinho, mas nós não estamos sozinhas, tem muita mulher. Não chegamos a nos equiparar com os homens, mas a gente vai crescendo ano a ano de 13 a 14%. Advogadas, arquitetas, engenheiras, mulheres aposentadas, entre outras, estão fazendo essa transição de carreira para a área condominial, que é muito promissora”, ressalta.
Sobre preconceito, Ana Paula sabe bem o que é isso. “Eu sempre sofri e talvez sempre vou sofrer, infelizmente, pela ignorância da sociedade. Primeiro porque eu sou mulher, segundo porque eu sou negra e terceiro porque eu sou síndica e moradora de condomínio do Programa Minha Casa e Minha Vida. As pessoas não conseguem enxergar a dimensão do programa Minha Casa e Minha Vida. Se eles conseguissem enxergar o quanto que o projeto é importante, eles não teriam tanto preconceito”, destacou.

A síndica Camila Oliveira Lamonica atua na desde 2013 e atualmente administra o Condomínio Reserva Curumim, localizado no bairro do Horto, em Campos dos Goytacazes. Lá são 144 apartamentos e em breve mais 72 apartamentos, total 216. Para ela, atualmente, o mundo dos condomínios está mais igualitário que antigamente e, por causa do olhar atento aos detalhes e mais sensível, elas têm feito ótimas gestões.
“Vejo a presença feminina na área condominial como um contrapeso de gestões mais sensíveis e humanizadas, uma vez que a sociedade como um todo vem observando a crescente ocupação de cargos, antes só ocupados por homens, agora também por mulheres. É o nosso momento de mostrar as nossas habilidades e o que somos capazes, promovendo a igualdade de gênero nos condomínios”, destaca.
Camila destaca que muitas vezes as mulheres ainda são vistas como frágeis e isso acaba causando discriminação. “O preconceito se mostra nas entrelinhas, na desconfiança de nossa capacidade de enfrentar e resolver problemas. Infelizmente, em raros casos, ao ter minhas falas interrompidas, já tive que me impor e levantar a minha voz, que de costume é mais baixa e menos grave, para ser ouvida por homens nas tratativas condominiais. Temos que conquistar nosso espaço e nosso lugar de fala e sermos respeitadas, como qualquer outro profissional e, antes de tudo, ser humano”, disse a síndica.

A advogada especialista em Direito Condominial Drª. Mayara Santos Hespanhol também destaca o toque feminino não só na administração dos residenciais, mas também no nicho jurídico especializado. O olhar humano e apurado, na opinião da jurista, tem feito diferença nos condomínios mundo afora.
“Atualmente é visível o crescimento da presença feminina no mercado de trabalho, faculdades, campos de pesquisa e não está sendo diferente na área condominial. São mulheres exercendo função de síndica, participando de conselhos fiscais, zeladoras, mulheres também que compõem o jurídico de condomínios e até mesmo proprietárias, inquilinas, que participam ativamente em reuniões e no dia a dia do condomínio que, de certa forma, acabam, assim, contribuindo para o crescimento do local. A presença feminina também tem sido muito importante na área do Direito Condominial. Pois elas têm mostrado um olhar mais humano, facilitando a resolução de conflitos que sabemos que é constante na nossa área, além de diversos outros fatores como organização, planejamento. E é muito bom poder presenciar o crescimento feminino na área”.
E, como a maioria das mulheres, a advogada também sofreu discriminação de gênero. Diante da situação, Drª. Mayara conta que aprendeu a se posicionar e mostrar na prática tudo o que a mulher é capaz de realizar.
“O Direito Condominial entrou na minha vida por acaso, e no início eu apenas participava de reuniões do meu condomínio. Já fui conselheira fiscal e ouvi, sim, alguns comentários de outros moradores, geralmente mais idosos, sobre a minha idade, embora eu não seja tão nova, e pelo fato de ser mulher. Diante de situações assim, de comentários, até mesmo maldosos às vezes, vamos aprendendo com o tempo a nos posicionar e mostrar na prática que nós somos capazes, sim. Não só de atuar na área condominial, mas também de estar à frente de situações conflituosas e, a partir disso, mostrar resultados e apaziguar conflitos. Então, hoje eu já não sofro mais preconceitos, mas já sofri, sim”, ressaltou.

Em uma profissão ainda dominada por homens, a porteira Thaiane Cabral não se intimida. Mas ela é otimista em relação ao futuro: “Atualmente a porcentagem de profissionais femininas na portaria vem aumentando, quebrando o preconceito de que mulheres não são capazes ou inferiores. Preconceito nunca passei, muito pelo contrário, as pessoas e os próprios moradores reconhecem o trabalho e admiram. Claro que não podemos dispensar algumas exceções, expressões com o rosto de superioridade, algumas perguntas inconvenientes, mas isso é fácil lidar com o profissionalismo e mostrando a competência”, disse.