O Fantástico mostrou, nesse domingo, o flagrante de mais um episódio de racismo em nosso país. E mais uma vex em condomínio.
Um vídeo que repercutiu muito durante a semana mostra a cena de um porteiro negro sendo atacado pelo morador branco de um prédio na Zona Sul do Rio de Janeiro. Um retrato da intolerância e do preconceito em portarias e condomínios, Brasil afora.
Reginaldo, de 51 anos, é funcionário de um prédio em Copacabana há quatro anos, faz faxina, e três vezes na semana fica na portaria. E era onde ele estava no último domingo, dia 26 de junho. Dia que ele queria esquecer, mas não consegue.
Ele conta que estava recebendo duas pessoas que tinham acabado de chegar, quando foi surpreendido pelo francês Gilles David Teboul, que mora há cinco anos no prédio.
“Ele desceu do elevador social e foi a caminho do elevador de serviço. Aí quando eu tô conversando com a moça, ele já chegou gritando: ‘Ô, seu irresponsável, você não tá vendo que a porta do elevador tá aberta?’ Eu falei: Seu Gilles, é que eu tô recebendo uns hóspedes. Ele falou: Você é um incompetente, você não tem capacidade para exercer essa função de porteiro, seu negro”, relembra.
Foi assim que começaram as agressões. E boa parte delas acontece diante das câmeras de segurança.
“Aí quando ele falou isso, eu falei: ‘Seu Gilles, o senhor me respeite’. Pra ele, aquilo foi uma ofensa, um negro pedir pra respeitar ele. Aí ele já veio me agredir. Ele já veio já me deu a mão no meu pescoço. Aí eu falei: ‘O senhor me agrediu, eu vou fazer um boletim de ocorrência por conta da agressão’”, conta.
Segundo Reginaldo, o francês revidou e disse “eu tenho dinheiro, isso não vai dar em nada”.
“Já começou a me chamar de vagabundo, de macaco, de negro. E se encostou em mim, a me deu um soco nas partes de baixo, e eu fiquei na minha, aí passou a mão na minha cara”, detalha.
A moradora do segundo andar Rejane, advogada, escutou a gritaria e desceu ao local. Conta que viu o porteiro atrás da mesa e Gilles em cima dele.
“Seu Reginaldo, acuado na parede, com os braços cruzados para trás, e ele falando e xingando assim com o rosto encostado no rosto de seu Reginaldo: ‘Você é um macaco, é um preto fedorento. Você não serve nem para ser porteiro’. Aí deu um soco com essa mão nas partes íntimas de seu Reginaldo”, descreve Rejane.
Reginaldo e Rejane contam que Gilles então subiu para o apartamento e eles chamaram a polícia. Gilles Teboul se recusou a ir pra delegacia. Reginaldo relata que durante as agressões Gilles dizia o tempo todo que é médico na França.
Gilles Teboul só apareceu pra prestar depoimento na última quinta-feira (7). Ele tem uma passagem para França no dia 24 de julho, mas a polícia apreendeu o passaporte dele.
No depoimento, ele nega as ofensas racistas e conta que naquele dia “teve que descer pela escada, que se dirigiu ao porteiro e disse: ‘por que você não fechou bem a porta do elevador?’ E Reginaldo teria respondido: ‘pergunta pra tua mãe’. E que que nesse momento ele se aproximou e disse: ‘Se você não tem competência para fechar a porta, você não deve trabalhar aí.'”
O PM que atendeu a ocorrência relatou que Gilles confirmou ter agredido o porteiro, sem especificar qual tipo de agressão, e disse que não iria à delegacia. O policial afirmou que não viu a agressão.