Meu Condomínio — Quais são os impactos na arquitetura com a pandemia e as tendência pós-pandemia?
Carlo Conte – Com a pandemia, a preocupação com o isolamento social e o reforço nos cuidados com a saúde levaram todos à reclusão em suas moradias. Como consequência, se percebe a necessidade por espaços seguros e adequados para nova realidade. Já é possível notarmos grande busca por residências maiores e mais ventiladas, afastadas dos centros urbanos e aglomerações, como um meio de prevenção e busca de qualidade de vida. Tudo isso possibilitado, claro, pela rápida e forçada adoção do trabalho remoto. Vemos uma nova dinâmica de vida sendo absorvida pela sociedade, em que o local de trabalho passou a ser sua residência, o ensino passou a ser remoto, o abastecimento em geral passou a ser online e por delivery. Essas mudanças de comportamento estão se tornando o novo hábito, ou o “novo normal”, transformando nossa maneira de pensar, trabalhar, educar e viver. A Arquitetura acompanha as necessidades humanas e os projetos já estão refletindo isso com novos conceitos.
Meu Condomínio — Alguns especialistas falam que a pandemia vai trazer resultados similares a um pós guerra, com necessidades de restabelecer novos conceitos. Na sua opinião, quais deles se destacariam?
Carlo Conte – O formato dos espaços já está sendo repensado. Os protocolos da crise exigem distanciamento entre pessoas e, mesmo na pós-pandemia, a tendência é por espaços amplos. Prevemos halls maiores, totalmente ventilados ou com equipamentos que intensifiquem a renovação do ar constantemente, além de espaços de higienização pensados para a transição de um ambiente externo para o interno. Os espaços passam a considerar a dinâmica do abastecimento remoto, o delivery de alimentos e materiais em geral, além de áreas para descarte seletivo de materiais recicláveis. Refúgios verdes como varandas, áreas externas ou pequenos espaços internos passam por maior valorização e cuidados com saúde do corpo e da mente, como já aponta a tendência americana de Housing in healthcare (habitação nos cuidados com a saúde). O espaço para o ar livre integrado, com iluminação natural e vegetação, tem sido prioridade nos projetos para proporcionar lazer e qualidade de vida. Além disso, é necessário espaço para relaxamento e silêncio, fundamentais para acalmar a mente. O trabalho remoto, ou home office, demanda ambiente que proporcione conforto e privacidade, como biombos, divisórias e recursos tecnológicos que propiciem as funções de um escritório com o mínimo de interferência externa. Do ponto de vista de sustentabilidade e ambientes mais inteligentes, painéis solares estão sendo adotados em larga escala nos projetos para reduzir o consumo de energia, bem como o uso de lâmpadas UV para auxiliar no controle de germes e doenças.
Meu Condomínio — Como será o futuro dos escritórios?
Carlo Conte – Diante da experiência vivida pelas empresas diante do lockdown, percebeu-se que é possível o trabalho remoto. Os escritórios e Co-Workings (espaços compartilhados de trabalho), passam por adaptação pela nova dinâmica do trabalho: com a maioria dos profissionais em home office, a necessidade por grandes escritórios é revista diante do menor número ou inexistência de postos fixos. O espaço passa a comportar facilidades para o uso não-contínuo, os halls e elevadores são planejados para ser mais amplos e inteligentes, diminuindo aglomeração e toque em botões, os escritórios viram, portanto, um ponto de encontro que preserva relacionamentos profissionais, mas não um local de trabalho como no século XX.