Bairros nobres e periferia com o mesmo comportamento em Campos. Foram nestes locais que o IBGE registra, até o momento, a maior incidência de residências não recenseadas por recusas ou por estarem fechadas. Nos bairros de classe média alta, como Pelinca, Tamandaré e São Caetano, as maiores recusas foram em condomínios. A informação é do coordenador de área demográfica do IBGE, Murilo Nogueira de Jesus Silva. Em todo município são 6.400 residências não recenseadas e o órgão trabalha para sanar estas pendências nos próximos 40 dias, quando acaba o recenseamento. Mesmo assim, não deve atingir a expectativa de 514 mil moradores, embora possivelmente supere 2010, quando havia 463 mil pessoas morando em Campos. Levantamento prévio divulgado em dezembro apontava 474 mil habitantes.
Murilo conta que houve dificuldade em alguns condomínios, muito por conta de preocupação com a segurança e até pela polarização política nacional.
– Mas, em geral, nós conseguimos cobrir todos os condomínios. Como falei na entrevista à revista Meu Condomínio, antes mesmo de começar o Censo, buscamos esta parceria com os síndicos. E deu muito certo: administradoras e muitos síndicos, principalmente os profissionais, nos ajudaram muito. Os síndicos a estabelecer esse contato com os moradores. A maioria esmagadora de recusas que tivemos não foi dos condomínios e sim de seus moradores, o que pode acontecer dentro do prédio como também em uma casa de bairro. Onde obtivemos mais recusas foram nos bairros mais novos onde mora a classe média alta e nas periferias onde a presença do trafico é maior – explica.
O coordenador cita as regiões da Pelinca, Parque Tamandaré, Parque São Caetano, além do Jardim Maria de Queiroz como as com maior recusa: “Alguns bairros que eu tinha uma perspectiva boa de que seria mais fácil a entrada, nós tivemos dificuldades, muito pela questão dessa polarização política nacional, sendo um dos fatores para que houvesse essas recusas no meu entendimento. Por outro lado, nos marcados pela criminalidade, a recusa se dá com medo de serem mal interpretados por aqueles que ‘comandam’ aquela região, talvez achando que eles podem pensar que aquelas informações atrapalharão as atividades ilegais que ocorrem naqueles bairros”.
Embora só seja possível ver o índice de recusas destes bairros individualmente após a conclusão do Censo, no final de fevereiro, no município todo chega a 4%, portanto dentro do limite aceitável de 5%: “O que não deixa de ser uma quantidade de entrevistas considerável, pois são cerca de 6.400 domicílios fechados ou que o recenseador voltou em várias oportunidades e não encontrou o morador. Podem ser cerca de 17 mil pessoas não computadas”.
Parceria com a Prefeitura
Semana passada o IBGE firmou parceria com a Prefeitura de Campos para conscientizar a população que não respondeu ainda o Censo para ligar para o número 137. Ali ela poderá confirmar se foi ou não recenseada, ser encaminhada para a realização e, até, responder as perguntas.
O resultado preliminar apontando o número de habitantes de Campos abaixo da expectativa pode comprometer o orçamento do Executivo Municipal e a execução de políticas públicas de assistência e atendimento à população. O prefeito Wladimir Garotinho chegou a divulgar vídeo convocando a população. Na última quarta-feira, agentes de desenvolvimento local (ADLs) da Secretaria de Governo e agentes de endemia do Centro de controle de Zoonoses (CCZ), da Secretaria de Saúde, participaram de reunião com o IBGE. Eles vão auxiliar na identificação de domicílios não visitados ou na localização de famílias que não foram visitadas e não prestaram informações para o Censo.
Importância do Censo
O coordenador destaca que o número de habitantes mexe com a arrecadação do município, com a parcela que recebe de verba da União, nas áreas da saúde, educação, entre outras: “Além disso, esses dados vão servir de base para tudo que se disser sobre a população nos próximos anos, pelo menos até 2030. Então, se a população não responder agora, ela só vai ter a oportunidade de aparecer nessa ‘foto’ de novo em 2030. Por isso precisamos ter esse retrato agora, tanto no quantitativo, quanto na qualidade de vida, da forma de vida da população, pois isso vai subsidiar o serviço público, investimento de empresas no nosso município e para própria população se conhecer e exercer sua cidadania, conhecendo sua condição de vida, a condição de vida do seu município, tendo informações até para pleitear melhorias”.