Nas últimas semanas, chuvas intensas resultaram em transtornos para diversas cidades. Chamou a atenção, também, o número de condomínios afetados, dos mais variados padrões.
A revista Meu Condomínio convidou dois engenheiros civis – Edilson Maciel e Raphael Pinheiro – a analisarem a situação. Os problemas e possíveis soluções estão apontadas no artigo abaixo:
Ocorreu no dia 19 de dezembro um evento lamentável na nossa cidade de Campos e em cidades vizinhas: uma precipitação de 140 mm em um espaço de tempo de 12 horas de chuva, que provocou diversos pontos de alagamentos, ocasionando irreparáveis perdas materiais. A questão a ser discutida é identificar as causas que provocam inundações, suas consequências e possíveis soluções a serem adotadas.
Várias são as causas dos alagamentos em áreas urbanas: podemos relacionar as chuvas intensas, o tipo do piso, lixo nos bueiros, erros de projeto e ocupação de áreas alagadiças naturais. Mas, dentre essas listadas, podemos eleger a intensidade da chuva e a impermeabilização de áreas no processo de urbanização e drenagem deficiente como fatores principais para a ocorrência de enchentes urbanas.
Na ocorrência de chuvas intensas, mesmo sendo de curta duração e alta intensidade, não permite que o volume precipitado escoe dentro de um intervalo de tempo necessário, para que as águas pluviais não represem nos pontos de estrangulamentos do sistema de drenagem, no caso bueiros e bocas de lobo.
No processo de urbanização, áreas inicialmente permeáveis sofrem a intervenção com a construção de ruas pavimentadas e construção de edificações, que tornam essas áreas impermeáveis aumentando consequentemente o escoamento superficial da chuva, que de acordo com a topografia, plano e muito inclinado. provocará o alagamento e forte escoamento superficial, respectivamente. Devemos considerar que conforme ocorre a expansão horizontal e vertical imobiliária de uma determinada cidade, consequentemente provocará a impermeabilização desta área.
Por outro lado, se o processo de urbanização é necessário e importante para o desenvolvimento de um município, os projetos de engenharia para drenagem de águas pluviais devem ser compatíveis com a área urbanizada, ou seja, dimensionadas para realizar o escoamento da chuva dentro de tempo de escoamento e vazão calculados, de forma a não provocar o acúmulo de chuvas nos bueiros e sarjetas.
A responsabilidade nas obras de drenagem na fase de projeto de bairros, condomínios horizontais e verticais são solidárias entre o construtor e o órgão público de fiscalização. O construtor, dentro de sua responsabilidade, deve promover a drenagem pluvial do empreendimento direcionando-a para o sistema de drenagem urbana do município. Este projeto deverá prever a compatibilização com a capacidade em absorver as descargas e extravasamentos da rede de drenagem municipal.
Com o objetivo de minimizar a ocorrência de alagamentos e reaproveitamento águas das chuvas para novos empreendimentos, no Estado do Rio de Janeiro está em vigor uma Lei Estadual, Lei Nº 9.164 de 28 de dezembro de 2020, que prevê mecanismos para diminuir o impacto de chuvas intensas em áreas urbanizadas com a criação de reservatórios de águas pluviais, com objetivo de reaproveitamento dessas águas para fins não potáveis e de reservatórios de retardo, com objetivo de amortecer (aumentar o tempo de escoamento e diminuir a vazão) o lançamento das águas pluviais no sistema de drenagem.
Em empreendimentos existentes, onde a ocorrência de alagamentos fora identificada, orienta-se uma inspeção do empreendimento, com objetivo de verificação do projeto de drenagem de águas pluviais quanto ao seu dimensionamento, funcionalidade e adequação às normas, por profissional ou empresa qualificada.
A cidade de Campos dos Goytacazes conta com uma baixa declividade topográfica, o que dificulta muito o escoamento natural por gravidade. Nestes casos, nas áreas alagáveis, são necessários a criação de sistemas armazenamentos e escoamentos forçados com uso de bombas para direcionar o fluxo de água para canais e o Rio Paraíba do Sul. Existe ainda um fator muito importante ao analisar a composição do solo do município, sua composição é predominantemente argilo-arenosa e areno-argilosa, que lhe confere uma característica baixa permeabilidade.
Sendo assim, existem regiões historicamente alagadiças que para construção de empreendimentos nestes locais, sem as devidas observações aos critérios técnicos, ocasionarão inevitáveis problemas de escoamento das chuvas. Diante dos fatos, os profissionais de engenharia civil, construtores e o poder público, devem buscar soluções para amenizar os impactos da ocorrência de chuvas de grande intensidade, cada vez mais comuns, devido às mudanças climáticas que estão ocorrendo no planeta.
Edilson Maciel
Engenheiro Civil (Uenf)
Especialista em Estruturas de Concreto Armado (UCAM)
Perito Judicial TJMG e TJRJ
Pós-graduando em Patologia das Construções (Unileya)
Professor do curso de Engenharia Civil (Afya/Uniredentor)
Raphael Pinheiro
Engenheiro Civil (Uenf)
Pós graduando em Patologia das Construções