A taxa de inadimplência da cota condominial em setembro chegou a 18%, ultrapassando a média deste ano que ficou em 14%. O resultado é um avanço significativo de 29% no indicador, de acordo com pesquisa da Apsa com base em mais de três mil condomínios que a empresa administra no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal, Bahia e Pernambuco. Para driblar a inadimplência, muitos condomínios têm recorrido às chamadas garantidoras.
Segundo o estudo, a inadimplência é observada nos primeiros 30 dias depois do vencimento da taxa condominial. Após o primeiro mês de atraso, 5% dos condôminos continuam sem pagar em dia. Na avaliação de João Marcelo Frey, gerente de Negócios de Condomínios da Apsa, o cenário tem ligação com a Selic (taxa básica de juros) elevada, desemprego e informalidade, inflação e custo elevado de vida.
“Recentemente a Selic chegou a 13,75% ao ano e isso traz consequências a curto e médio prazo. Há aumento da dívida da população brasileira. Segundo o estudo “Pagou Fácil”, da financeira Paschoalotto, esse indicador cresceu 10% em 2024. E o endividamento das famílias se reflete diretamente na inadimplência das cotas condominiais”, analisa Frey. Ele lembra que, como os juros das taxas condominiais são bem mais baixos – cerca de 1% ao mês – do que os do cartão de crédito, por exemplo, muitos condôminos preferem quitar o cartão para poder comprar itens básicos e atrasam o condomínio.
O levantamento também indicou uma piora da situação financeira concentrada nos condomínios com cota de até R$ 500. A taxa verificada nesse segmento é de 28%. “Entendemos que há mais desemprego e perda de renda para essa parcela da população e, por isso, a inadimplência acaba sendo mais alta”, afirma executivo.
Além destes fatores, é no segundo semestre que começam a ocorrer as cotas extras como o 13º salário dos funcionários, o que também pode aumentar a inadimplência. “É importante que os condomínios tenham um orçamento atualizado e que estes valores sejam provisionados mensalmente, dentro da cota condominial, para não surpreender os condôminos no final do ano. Vale reforçar que a falta de pagamento das cotas compromete radicalmente o funcionamento das unidades, sejam elas de moradia ou comerciais, já que é com esse dinheiro que os síndicos e gestores pagam os salários dos funcionários, limpeza, segurança, água e energia”, lembra Frey.
Condomínios recorrem a garantidoras
Gerente regional da Pró-Síndico Group, Keury Lobo destaca que a inadimplência tem crescido cada vez mais, não apenas no Estado do Rio, mas no país todo. Ela pontua que o problema atrapalha bastante a gestão de um condomínio, já que muitos moradores não veem como prioridade o pagamento da taxa condominial.
“Qual é a última conta que o morador vai pagar? A taxa de condominial! Porque os juros do condomínio, pela lei, são de 2%. E isso atrapalha muito a gestão do síndico. Com a inadimplência alta, como ele vai manter as contas em dia e ainda fazer as manutenções necessárias?”, questiona.
Mediante o aumento sucessivo da inadimplência, Keury justifica que o mercado condominial se viu sem saída e foi daí que surgiram as garantidoras.
“Eu costumo dizer que as garantidoras são um apoio. Uma garantidora nada mais é do que uma empresa de cobrança de taxa de condomínio que tem esse diferencial de antecipação de receita. Assim, o condomínio passa a trabalhar com inadimplência zero. Para isso, ele paga uma pequena taxa para essa antecipação ser feita”, esclarece.