Comprar ou construir a casa própria demanda tempo, cuidado e recursos. E, nesse processo, nem sempre as coisas saem como a família espera, mas ao se mudar para o novo lar, vem a recompensa. Entretanto, a casa dos sonhos veio acompanhada de uma série de transtornos para moradores dos condomínios de alto padrão localizados no Parque Rodoviário, devido ao não cumprimento de compromissos assumidos pelas construtoras responsáveis pelos empreendimentos.
Como contrapartida ao município de Campos pela instalação dos condomínios naquela área, as empreendedoras deveriam investir na pavimentação das pistas de acesso aos imóveis, em projetos de urbanismo e paisagismo na área e, ainda, na implementação de novas vias de acesso aos residenciais, como alternativa à única opção hoje oferecida aos moradores: a BR 101.
Para quem mora nesses condomínios, a saída para compromissos em determinados horários do dia precisa acontecer com grande antecedência, devido ao trânsito na rodovia federal, que fica lento e tumultuado naquele trecho.
— Até mesmo uma tarefa simples, como levar e buscar as crianças na escola, acaba sendo estressante, porque ficamos presos no trânsito. E, se não sairmos com folga no horário, chegamos atrasados. Não temos alternativa. A única forma de sairmos do condomínio para qualquer lugar da cidade é pela BR — contou a empresária Maria Alice de Almeida.
Outro problema enfrentado pela população desses condomínios é a má qualidade da rua de acesso, cuja pavimentação ficou a cargo da construtora responsável pela implementação do Condomínio Damha I. De acordo com o síndico Marcos Moulin, além dos transtornos e prejuízos com danos aos veículos, os moradores se expõem ao risco de acidentes e, ainda, de assaltos.
— Já tivemos relatos de acidentes causados pelos buracos, que obrigam os motoristas a desviarem dos obstáculos, e pelos resíduos acumulados nas pistas, que levam motociclistas a derraparem. Isso sem falar no risco de assaltos, já que os criminosos se aproveitam quando os condutores reduzem a velocidade para render as vítimas — contou Moulin.
O síndico explica que o Nashville foi o primeiro empreendimento imobiliário a se instalar no local e contava com um acesso que era problemático. Depois de alguns anos, a Prefeitura fez o calçamento de toda essa via, desde a BR 101. Entretanto, quando começaram a surgir os outros condomínios, os caminhões que transportavam o material para as obras acabaram danificando a via. “As contrapartidas exigidas pela Prefeitura para a construção dos novos empreendimentos nessa área verde foram divididas entre o Damha e o Royal Boulevard”, disse Marcos.
De acordo com ele, a construtora Damha fez a pista dupla e a do Royal ficou responsável pela construção de uma ponte sobre o canal para um novo acesso pelo Parque Esplanada, além de uma pista asfaltada, ligando também o acesso à rotatória em frente ao estacionamento do Boulevard. Nesse pacote, o próprio Shopping Boulevard também teria participação.
— A construtora do Damha ficou devendo apenas o canteiro central, que seria o paisagismo entre a via que seria de responsabilidade da construtora do empreendimento do Royal e a outra antiga, mas a construtora alegou que não poderia fazer o paisagismo porque o Royal não fez a obra. A pavimentação, apesar de ter sido feita pela Damha, foi de uma qualidade muito ruim. Tanto que em menos de dois anos o asfalto estava totalmente deteriorado. O fato é que os empreendimentos estão prontos, muitas famílias se mudaram e o acesso é muito complicado — afirmou o síndico do condomínio Damha.
Esses problemas já chegaram ao Ministério Público estadual, que formalizou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para que as empresas efetuassem as obras necessárias e cujo compromisso haviam assumido, mas, de acordo com Marcos Moulin, ninguém cumpriu e o processo não teve efeito prático. “Nossa esperança é que o poder público cobre as contrapartidas das construtoras”, disse Moulin.
Nas últimas semanas, caminhões, máquinas e operários voltaram a ser vistos atuando na pista paralela à Rua Aires de Souza, mas os trabalhos não estão sendo efetuados pelas construtoras dos condomínios, como deveria ocorrer, e sim pela Prefeitura de Campos, o que gerou novos questionamentos.
— No início da atual gestão municipal, marcamos uma reunião, em que o prefeito compareceu, e eu falei pessoalmente a ele que não queremos que a Prefeitura gaste recursos públicos nessas obras, porque deveria ser uma contrapartida de responsabilidade das construtoras. Basta a Procuradoria municipal correr atrás e exigir. Mas a gente está vendo a Prefeitura gastar dinheiro público ao invés de cobrar que as construtoras cumpram as suas responsabilidades — ressaltou Marcos Moulin.
Síndico do Royal Boulevard, Marcelo Valentim destaca que “é preciso separar o condomínio das construtoras RBDU e Belatrix”: “Recebemos a informação que a Prefeitura irá construir uma pista e o Shopping Boulevard outra”.
A Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura informou que está sendo realizado um levantamento das necessidades urbanas nos entornos dos condomínios, para elaboração de um programa de atendimento. “A pasta esclarece que já se reuniu com os empreendedores do Condomínio Royal Boulevard e ficou acordado que os mesmos irão concluir a urbanização do entorno do condomínio. Esta urbanização será ao longo da Rua 30 (José Naked), iniciando na rotatória de acesso. A Secretaria tem atuado e cobrado providências para que o atendimento seja realizado o mais breve possível”.
A Revista também entrou em contato com o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, mas não teve retorno.